“Eu tenho trabalhado
muito com alguns pacientes. Já fiz alguns abortos no passado, mas no máximo
dois e nunca cobrei nada. Os abortos que fiz foi na minha família”, disse a
mulher presa na manhã desta terça-feira (15) suspeita de realizar abortos
clandestinos em João Pessoa.
Marlene da Silva Alves, de 75 anos, foi presa em
casa, onde, de acordo com a polícia, os procedimentos eram realizados.
De acordo com a
investigação, a idosa cobrava R$ 400 por procedimento abortivo. Ainda não há
informações sobre o número de mulheres que foram submetidas ao procedimento.
Segundo o agente de investigação Alberto Soares, o objetivo principal da ação
era fechar o local. “Nosso interesse era impedir que outras mulheres morressem
no lugar. Agora vamos aprofundar a investigação”, explica.
Segundo Geane
Virgínia, filha da idosa, a família mora na residência e o local não funciona
como ponto de realização de aborto. Ela ainda declarou ter ficado surpresa com
a visita da polícia e disse que não tem nada a esconder.
De acordo com informações
da delegada Emília Ferraz, da Delegacia de Crimes contra a Pessoa, as
investigações começaram a partir da morte de uma suposta paciente. Conforme
mostram as investigações, a mulher passou por um procedimento abortivo na casa
da suspeita no dia 6 de maio e teve uma septicemia, ou seja, uma infecção
generalizada.
A mulher foi levada
para uma maternidade de João Pessoa, onde ficou internada por dois dias em uma
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e passou por procedimentos cirúrgicos,
inclusive uma histerectomia completa. Porém, ela não resistiu à infecção e
morreu no dia 8 de maio. Ainda de acordo com a delegada, o útero da paciente
estava todo perfurado.
“Ela já tinha dois
filhos de dois relacionamentos distintos e estava grávida do terceiro filho,
fruto de um relacionamento que não era fixo. Segundo a família, ela se
desesperou. Quando ela pediu ajuda à família, ela já estava muito frágil, não
conseguia nem andar. Com o procedimento, ela terminou morta e deixando dois
filhos órfãos”, comentou a delegada Emília Ferraz.
Além da prisão, a
polícia também apreendeu o material usado nos procedimentos. Os objetos são de
uso ginecológico e obstétrico, a exemplo de espéculo e ducha de lavagem, e
também de uso cirúrgico, como tesoura cirúrgica, sondas e comprimidos
entorpecentes.
“Nós acreditamos que
ela colocava o espéculo e introduzia, por meio de uma sonda, um líquido para
ceifar a vida do feto. A paciente voltava para casa, onde, aos poucos, o feto
ia sendo abortado. O que chama a atenção é a falta de higiene e de trato desse
local. Os materiais não eram esterelizados e alguns estão totalmente
enferrujados”, relatou a delegada.
Marlene apresentou à
polícia um certificado de parteira leiga e outro de auxiliar de enfermagem.
Segundo a delegada, ela negou todas as acusações e disse que o material era
usado no cuidado de idosos.
Quem tiver
conhecimento de outras vítimas da clínica clandestina pode entrar em contato
com o disque denúncia da Polícia Civil, o 197, para auxiliar nas investigações.
O anonimado será preservado.
uirauna.net