Sucesso no Carnaval, Mulher Abacaxi é carreteira e dona de uma transportadora

Mulher Abacaxi deu o que falar neste Carnaval ao desfilar de topless ao esquecer a parte de cima da sua fantasia em casa, que acabou gerando até a sua separação. Além de já ter se lançado na carreira artística e ser rainha da escola de samba Acadêmicos de Niterói, Marcela Porto, de 49 anos, é carreteira, operadora de máquinas pesadas e dona de uma transportadora de minérios com 10 funcionários.

"Nós, pessoas trans, podemos estar onde quisermos. Dirijo caminhão desde os 12 anos. Sou de uma família de caminhoneiros. Meu pai era um dos melhores carreteiros de Campos dos Goytacazes e meus irmãos mais velhos todos dirigem também. Nós temos diesel na veia", declara.

A empresária conseguiu a habilitação categoria E (permissão para dirigir veículos acoplados ou articulados). Marcela também é dona da MS Minérios, empresa de transporte de minérios, que conta com 8 caminhões e uma retroescavadeira. Apesar de atuar em um ambiente ainda extremamente machista, Marcela diz que não causa estranheza em seus clientes, nem é vítima de transfobia no trabalho.

"Sofri na transição. Hoje acho que muita gente nem desconfia, se sabe, não falam", acredita Marcela, que nasceu em Campos dos Goytacazes, região norte do estado do Rio de Janeiro, morou durante anos em Niterói, na região metropolitana fluminense e agora reside em Maricá, na região dos lagos, com o marido, Lemos Cruz, de quem ela está separada e prefere manter discrição sobre o ex-companheiro.

Marcela gosta de estar bem vestida e sensual, mas durante o trabalho, ela usa uniforme e prefere não usar acessórios que chamem a atenção. "Arrumada sempre, porém sem decotes ou shortinhos ou minissaia. Uso camiseta da firma, afinal, eu tenho que ser a garota-propaganda da minha empresa. Também não curto chamar atenção em ambiente de trabalho, procuro ser a mais discreta", reforça.

Outra vaidade que ela abre mão pela profissão é usar sapatos com salto alto, que inclusive é proibido de acordo com as leis de trânsito brasileiras. Calçado que não fica preso aos pés e que dificulte o acesso aos pedais pode resultar numa penalidade de multa no valor de R$130,16; além de somar 4 pontos no registro da CNH do condutor. "No trabalho nunca, porque como eu iria manejar uma retroescavadeira ou uma carreta de salto, mas adoro um salto", justifica.

A trajetória profissional de Marcela é diferente da maioria das mulheres transexuais. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% desse público é obrigado a recorrer à prostituição para se sustentar. Apesar dos obstáculos, Marcela diz que é preciso ir atrás dos objetivos. "Nós, pessoas trans, podemos estar onde quisermos e ser o que quisermos, basta acreditar e não deixa que nada nem ninguém destrua nossa autoestima", em poderá.
 

Fonte: Rafael Godinho (@rafagodinho) - Quem